domingo, 21 de novembro de 2010

O Uraguai e A Missão

A Igreja encuralada pela sua perda cada vez maior de poder na Europa, se omite, tentando manter ainda a ordem dos jesuítas viva, tanto em Portugal (o Marquês de Pombal, em 1750 ainda não havia expulsado os jesuítas - o que foi apenas questão de tempo) como no restante da Europa. Acaba sendo um pouco "vilãzinha", visto que se preocupa com o poder. Mas não podemos esquecer que a tentativa sustentava missões ainda em outros lugares, já que não afrontava a Espanha nem Portugal, não dando motivos para o extermínio da ordem.
O exército, como vocês devem lembrar, não queria lutar. E isso é dito claramente por um dos soldados. O comandante (pena que Gomes Freire de Andrade não receba o crédito) lembra que é uma questão de dever. Neste ponto, o filme reforça a visão crítica da guerra apresentada pelo poema, ainda que por motivos diferentes faça a crítica.
E o índio? Mocinho, sim, mas um mocinho diferente. Observem: o índio de O Uraguai é moralmente superior e um herói moral que não precisa de brancos para se defender. Afinal, a guerra foi vencida, segundo Basílio da Gama, pela vantagem tecnológica portuguesa. O que se confirma se lembrarmos que as guerras guaraníticas duraram 17 anos. O nativo sabia usar a natureza em seu favor para guerrear. Porém, em A Missão, o índio aculturado na Missão de São Miguel logo é vencido pelos portugueses e na Missão de São Carlos ele conta com a defesa do jesuíta. Aliás, não era essa a função dos jesuítas, proteger o índio da escravidão? Um pobre ser desgarrado da cultura católica, destinado ao inferno, para os preceitos da época, que precisava ser protegido como se protege um animal em uma reserva ecológica. Coitado do índio sem o jesuíta: não ia nem saber cantar em latim, nem tocar violino! Coisas tão úteis na selva, não é mesmo?

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